Festival Rádio Campanário: Lotação esgotada, Diego Ventura e pouco mais...
Lotação Esgotada no Festival Taurino da Rádio Campanário de
Vila Viçosa, que em boa hora se realizou este ano no Coliseu de Redondo, o que
permitiu que independentemente das condições adversas do tempo, que o mesmo se
realizasse com grande comodidade.
Um festival anunciado com um cartel de vedetas, digno de uma
praça de primeira, pena o resultado artístico não ter sido condicente com as
credenciais dos intervenientes.
Uma tarde em que houve Diego Ventura e pouco mais, mas vamos
por partes. Em praça os cavaleiros António Ribeiro Telles, Rui Fernandes, o
rejoneador Diego Ventura, Filipe Gonçalves, João Moura Jr. e a praticante Mara Pimenta. As pegas ficaram a cargo dos Amadores de Évora e
Redondo. Lidaram-se novilhos da ganadaria Prudencio da Silva.
Abriu praça António Ribeiro Telles e diga-se que teve uma
passagem muito discreta. Fez tudo correcto, com um toureio clássico mas de
pouca transmissão e talvez reconhecimento, diante de um novilho também de pouca
transmissão.
Rui Fernandes aqueceu um pouco o ambiente mas também sem
deslumbrar. Nos compridos demorou algum tempo a colocar a ferragem da ordem
diante um novilho que teimava em não se fixar, diga-se de passagem que foi um
comportamento transversal aos seus irmãos de camada. O primeiro curto resultou
um pouco descaído, mas logo emendou a mão para um bom ferro em terrenos de
dentro após levar o oponente “entretido” na garupa do cavalo. De seguida colocou um ferro com cite de praça a praça, partindo para o novilho e cravando
ao piton contrário mas já à garupa do cavalo. Terminou em bom plano com mais
dois ferros..
Coube a Diego Ventura fechar a primeira parte e praticamente
também o festival. Diego é controverso, ou se adora ou se detesta, se já houve
dias em que detestei, no sábado foi dos dias em que adorei e que salvou a honra
do convento. Uma vez, em entrevista ao Rádio Olé da Dianafm, Rafael Vilhais frisou que “era importante importarmos o que de bom o toureio de Espanha tem
para nos oferecer”, pena é por vezes que o nosso toureio a cavalo tenha pouco
de novo para nos oferecer, ou não seja justamente reconhecido. A actuação de Diego Ventura no Festival da Campanário, foi
digna de importação, mesmo tendo em conta que se tratava da lide a um novilho,
mas também é certo que o comportamento dos novilhos foram transversais a todos.
Diego recebeu o novilho com dois bons compridos com o
oponente a não fixar-se convenientemente. Nos curtos foi a apoteose total e
ninguém conseguiu ficar sentado. Colocou dois curtos ao piton contrário do
novilho com ligeiras batidas. O terceiro ferro foi de antologia, Diego aguentou
uma “eternidade” em muito curto com o novilho a esgravatar de cara em baixo e
do nada arrancou e o cavalo, como por instinto, saiu da cara do novilho e
Ventura cravou um grande ferro cingido. Rematou a lide com mais dois curtos de
alto nível, aqui já montando o Fino de seu ferro. Duas voltas justíssimas para
Diego Ventura.
A abrir a segunda parte do festival esteve Filipe Gonçalves e
“espicaçado” por Diego Ventura, fazia-se antever outra lide de emoção, mas
depressa essa expectativa se esfumaçou. Filipe teve uma passagem muito
discreta, talvez a lide mais discreta que o vi realizar. Nesta tarde nem o baio
estrela da sua quadra o safou. Nos inicios da série dos curtos sofreu uma
colhida que só não teve consequências graves devido à falta de forças do
novilho. Tentou cravar com batidas muito denunciados ao piton contrario mas a condição
do novilho não dava para isso. Terminou a sua actuação recolhendo alguns
aplausos das bancadas com o cavalo que faz levantadas e “bate as palmas”,
colocando em violino seguido de um ferro de palmo.
João Moura Jr. também não impressionou no Coliseu de
Redondo. E aqui o novilho em nada fez jus ao ditado que “não há quinto que seja
mau”. O novilho andou quase sempre descaído em tábuas à procura de fuga,
desligando-se do cavalo após a colocação dos ferros, resultando numa lide de
pouca emoção.
Fechou praça a pupila de Diego Ventura que outrora já tinha
passado pela Casa Rouxinol. Mara Pimenta acusou talvez o peso da
responsabilidade e demonstrou algumas dificuldades em dar a volta ao novilho,
nomeadamente na escolha adequada dos terrenos. Com a rês descaída para tábuas,
cravou a sesgo e teve o reconhecimento do público pelo seu esforço.
Quanto à forcadagem a tarde não deixa boas memórias a nenhum
dos dois grupos. Talvez alguma falta de experiência e o peso da
responsabilidade dos jovens forcados possa ter pesado nas actuações, mais até
para os lado de Évora, recordo-me que uma vez Guga Oliveira referiu-me que há tardes que se tem que estar sujeitos a estas situações, pois são nestes
espectáculos que têm que ser testados os jovens forcados e esta tarde foi
evidentemente uma dessas situações
Évora efectou duas pegas à terceira e uma à segunda
tentativa. Pelos “moços” de Redondo as pegas foram consumadas à quarta
tentativa e a sesgo, à terceira e o ultimo novilho à primeira, na pega mais
correcta da tarde.
Quanto aos novilhos Prudencio da Silva, fica a curiosidade de ver
os seus irmãos enquanto toiros. Não facilitaram o labor dos intervenientes, nem
tinha de o fazer, porque cabe aos artistas dar a volta ás dificuldades e puxar
dos galões para suplantar as dificuldades.
Para terminar de salientar o excesso de “individualidades”
na teia e quando muitas vezes se acusam os fotógrafos de distrair os toiros e
os retirar de sorte porque se movimentam a fotografar, o que dizer de cerca de
1/3 da trincheira estar composta de gente encostada com os braços debruçados
para a arena... Mesmo sabendo a natureza do espectáculo, talvez seja da
competência de alguém por ordem na “casa”.
Luís Gamito